O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição neurodesenvolvimental que afeta a interação social e a comunicação, tornando o tratamento odontológico um desafio significativo. Com o aumento da prevalência de crianças diagnosticadas com TEA, os dentistas estão cada vez mais encontrando esses pacientes em suas práticas diárias. Este artigo revisa as alternativas de tratamento preventivo para pacientes pediátricos com TEA, destacando a importância de protocolos especializados para o manejo odontológico.

Introdução

O autismo, derivado do grego "auto", que significa "si mesmo", é caracterizado por dificuldades na interação social e comunicação. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a prevalência global do TEA é de aproximadamente 1 em cada 160 pessoas. Essa condição requer atenção especial na prática odontológica devido às suas manifestações comportamentais e sensoriais.

Etiologia e Características do TEA

A etiologia do TEA é multifatorial, envolvendo fatores genéticos e ambientais. Estudos indicam que a probabilidade de desenvolvimento do TEA é significativamente maior em gêmeos, sugerindo uma forte componente genética. Além disso, fatores como exposição a substâncias químicas e complicações perinatais também são considerados.

Os pacientes com TEA podem apresentar diferentes níveis de gravidade, desde leve, onde a criança necessita de pouca ajuda, até severo, onde o suporte constante é necessário. As características comportamentais incluem dificuldades na comunicação verbal e não verbal, além de comportamentos repetitivos.

Desafios Odontológicos e Patologias Orais

Crianças com TEA frequentemente enfrentam desafios na manutenção da saúde bucal, como a dificuldade em tolerar cuidados orais e a cooperação limitada durante as consultas. Isso resulta em uma maior prevalência de cáries e doenças periodontais, exacerbadas pelo uso de medicamentos que podem reduzir o fluxo salivar.

Técnicas de Tratamento Preventivo

Para minimizar o risco de patologias orais, é essencial implementar um plano de saúde bucal abrangente. Técnicas de escovação adaptadas, como a técnica de Fones, são recomendadas para facilitar a aceitação do paciente. Além disso, o uso de pictogramas e frases curtas, como na técnica TEACCH, pode ajudar a guiar o comportamento do paciente durante o tratamento.

Protocolo de Atendimento

O atendimento odontológico de pacientes com TEA deve começar com uma avaliação clínica detalhada e a obtenção de consentimento informado dos responsáveis. A familiarização do paciente com o ambiente odontológico e o uso de técnicas de manejo comportamental, como a desensibilização sistemática, são cruciais para reduzir a ansiedade e melhorar a cooperação.

A técnica TEACCH (Treatment and Education of Autistic and related Communication-handicapped Children) é um modelo de intervenção amplamente utilizado para pacientes com autismo. Desenvolvida por Eric Schopler e seus colegas na Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, a abordagem TEACCH é baseada em princípios educacionais e terapêuticos que visam promover a independência, a autonomia e o desenvolvimento das habilidades dos indivíduos com autismo. Ela envolve uma série de estratégias e práticas que são adaptadas às necessidades específicas de cada paciente com autismo. Alguns dos principais componentes da abordagem TEACCH incluem:

1. Estruturação do Ambiente: Organização do ambiente físico para facilitar a compreensão e a interação do paciente, incluindo o uso de rotinas visuais, calendários e sistemas de organização.

2. Ensino Estruturado: Utilização de métodos de ensino estruturados e individualizados, com ênfase na aprendizagem visual, sequencial e repetitiva.

3. Comunicação Alternativa: Incentivo e suporte para o desenvolvimento da comunicação, seja por meio de sistemas de comunicação alternativa, como PECS (Sistema de Comunicação por Troca de Figuras), ou outras estratégias de comunicação.

4. Autonomia e Independência: Promoção da autonomia e independência do paciente, incentivando a realização de tarefas diárias e o desenvolvimento de habilidades funcionais.

5. Adaptação Curricular: Adaptação do currículo educacional e terapêutico para atender às necessidades e interesses individuais do paciente com autismo.

6. Apoio Familiar: Envolvimento e suporte da família no processo de intervenção, fornecendo orientações e estratégias para promover o desenvolvimento do paciente em casa.

Discussão e Conclusão

A técnica TEACCH se destaca como uma abordagem eficaz para o tratamento odontológico de pacientes com TEA, promovendo uma comunicação clara e estruturada. O uso de anestesia geral deve ser considerado apenas como último recurso, devido aos riscos associados. A educação dos responsáveis sobre a importância da prevenção e da higiene oral é fundamental para melhorar a saúde bucal desses pacientes.

Referências

• PÉREZ, N.; GONZÁLEZ FERRER, Y.; RODRÍGUEZ MARTÍNEZ, L. Autismo infantil, manejo na Especialidade de Odontologia. Acta Médica del Centro, 2017. Disponível em: http://www.revactamedicacentro.sld.cu

• PERALES-TERÁN, M. et al. Avaliação de três técnicas para o manejo de conduta odontológica em pacientes com transtorno do espectro autista. Odontol Sanmarquina, v. 24, n. 1, p. 7-14, 2021. doi: http://dx.doi.org/10.15381/os.v24i1.19692.

• MONTAGUT, M. et al. Influência do viés de gênero no diagnóstico de transtorno do espectro autista: uma revisão. Escritos Psicol, v. 11, n. 1, p. 42-54, 2018. doi: 10.5231/psy.writ.2018.2804.

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